Por: Bruno Rico
O irmão Rafael Braga foi condenado a 11 anos de prisão. Ainda cabe recurso em uma instância superior, e é por isso mesmo que a galera (pelo menos eu espero que seja realmente uma galera) vai se reunir na terça-feira, 25/04, às 19 horas, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro. Essa reunião é extremamente importante, pois já passou da hora de nos unirmos para traçar medidas efetivas e inteligentes em prol dos nossos irmãos, estamos caindo de todas as formas, a bala do Estado nos tomba da mesma maneira que o martelo racista desse mesmo Estado, e os danos também são inúmeros.
Eu não vou explicar o caso Rafael Braga aqui, já tem inúmeros textos sobre isso na internet, o irmão já está preso há anos, a campanha possui expressão internacional e eu acho que – as pessoas que dizem se importar com o próximo – têm a obrigação de saber, pelo menos, alguns detalhes sobre este caso, porque senão a gente só fica andando em círculos e a gente tá sem tempo pra isso, a causa é urgente, é corpo preto tombando toda hora, a demanda de corpos na favela segue em grande escala e a gente precisa ser mais objetivo e aprender a otimizar todas as formas de luta. O inimigo faz isso direto, por que a gente não pode ser mais estrategista?
Posto isso, eu quero focar no capital, ou melhor, na falta dele e o quanto isso interfere na nossa luta diária.
Eu já fui a alguns atos, em diversas reuniões que só resultarem em teorias, e muitas vezes ouvi o seguinte: “Pô, irmão, estava realmente querendo ir, mas tô até sem o da passagem pra poder colar”. Toda vez que eu ouvia isso, dava vontade de puxar uma grana e falar pra pessoa ir, que chegando lá eu daria a passagem, pois eu sabia que aquela pessoa somaria e seria de extrema importância na causa; mas cadê que eu conseguia fazer isso? Como que eu iria fazer isso se às vezes eu mal tinha pro meu deslocamento?
Aí, no meio de tudo isso, eu também fico me perguntando onde tá aquela galera que fica no facebook falando que quer mudar o mundo, tem grana pra poder ajudar em coisas pontuais e mesmo assim não o fazem, a gente que tem que ficar dando jeito em tudo. Lembro até hoje de uma cena que me marcou bastante e também envolve essa questão do capital. Era um dos protestos do caso de Costa Barros, na verdade era a reconstituição do crime, eu estava lá, uma das mães me conheceu, veio falar comigo, de forma muito afetuosa, por sinal, e no meio da conversa ela me pediu um trocado pra comprar uma caixa de leite pra filha mais nova. Porra! Isso é complicado demais, dá uma tristeza tremenda ver que uma mãe teve o filho assassinado pelo Estado e ela sequer tem um leite pra dar para os filhos, o mais triste é saber que você também não tem pra dar, pois também tá ali no veneno, mas faz um corre com alguns irmãos e irmãs pra tentar resolver aquela situação. E essa é a nossa vida de militância, quem tá nesse meio sabe bem o drama que é ficar nesse corre de resolver pequenos problemas, mas faz parte, pois precisamos fazer alguma coisa. Mas não deveria ser assim! Não é pra ser assim! Estamos passando veneno demais, o empoderamento que tanto se fala precisa ser efetivo e precisa aparar todas as arestas, e uma dessas arestas está na grana que nós ainda não temos.Olha o ato dos playboys, tem micareta e tudo. Olha os nossos atos, é uma correria danada pra fazer uma simples faixa e conseguir imprimir cem panfletos. Tudo está ligado ao capital, tudo! Não estou aqui pra falar de Marx, estou aqui pra falar das nossas dificuldades cotidianas e dizer o quanto isso interfere na nossa caminhada. Estou aqui pra puxar a orelha dessa galera que se diz da esquerda revolucionária, mas eles só sabem fazer recorte classista e o fato do Rafael Braga ser preto não importa, só importa o fato dele ser favelado, pois é isso que gera mais mídia pra esse pessoal.
Por falar em recorte racial… Você sabia que os pretos são os maiores empreendedores do Brasil? Pois é, isso acontece porque a gente tá sempre se virando como dá, mas seguimos sem incentivo, e quando alguns ascendem socialmente, eles ainda se esquecem dos que ficaram pra trás, a gente vai falar de Rafael Braga pra esses pretos e eles nem sabem quem é. O tal Ubuntu e “nós por nós” escorre pelo ralo. E os pretos do judiciário então, aqueles que poderiam estar fazendo coisas efetivas pelo irmão, cadê? Tô falando dos advogados e jurisitas num geral, não adianta fazer ato, reunião e etc. e tal se essa galera não colar para fazer algo efetivo. Os pretos que entraram pra política também precisam colar, não dá pra aparecer só pra pedir voto, eu também quero ver a cara dessa galera nessas reuniões e atos, até porque eles são representantes do povo, ou pelo menos deveriam ser.Analisar todo esse cenário é muito triste, mas são coisas que precisam ser faladas, pois a nossa causa é urgente e a gente não tem mais tempo a perder, é preciso se despir das vaidades e entender que a causa é coletiva, e também é preciso saber que tem gente que não cola nos atos porque falta o da passagem pra se deslocar nessa cidade onde o preço da passagem é um absurdo.
Terça-feira eu estarei lá na reunião da Cinelândia, o Rafael precisa da gente, sua mãe Adriana também precisa da gente. Quem puder ir, chegue com objetividade; quem não puder ir desta vez, até por conta das dificuldades que já citei, pelo menos divulgue a causa, fale com seus amigos, pense em articulações e ações, a gente pode fazer de tudo, só não podemos ficar parados, pois parado a gente tá morrendo, e a gente segue morrendo de diversas formas.
E se você tem grana, mas não pode comparecer aos atos e reuniões, procure por um dos articuladores da campanha, pergunte o que a campanha está precisando, ou então vá direto à mãe do Rafael, ela vai adorar receber a sua ajuda, até porque um preso precisa de grana pra se manter vivo na cadeia.
A propósito, segue os dados da conta da mãe do Rafael Braga:
Banco: Caixa Econômica Federal (104)
Agência: 4064 Conta poupança: 21304-9 Operação: 013
Nome: Adriana de Oliveira Braga
CPF: 148955027-59